Melissa Antunes, tu és uma das
mais talentosas e internacionais jogadoras Portuguesas de Futsal a jogar no
nosso campeonato.
Evoluída tecnicamente, dona de um
drible muito difícil de travar, e com uma visibilidade de jogo que te
transforma numa das jogadoras mais fortes da modalidade. Tens o prazer de ser
uma presença assídua nos trabalhos das Selecções Nacionais Universitárias e AA.
Aproveitamos para te entregar os Parabéns pela tua
nomeação para o 5 ideal do Campeonato do Mundo Universitário, de onde tu acabas
de chegar após 24 dias de trabalho. No meio de tantos elogios e qualidades,
emerge uma personalidade humilde, esforçada, muito trabalhadora e detentora de
um espírito de grupo assinalável – Melissa.
Tu chegas, como nos disseste, com muita
vontade de vencer e de dar seguimento à tua entusiasmante carreira. Integraste,
com memorável simplicidade, o nosso grupo de excelentes atletas. Dissestes nas
tuas primeiras palavras públicas, que estavas muito segura e serena da decisão
que tomaste e que só quem não estava atento ao nosso trabalho, é que poderia ficar
admirado com a tua escolha. São palavras de reconhecimento, como as tuas, que
nos motivam para estruturarmos, ano após ano, o projecto. Obrigado.
Reconheceste o nosso trabalho e nós mostramos que
gostamos muito do teu, com a tua contratação ;)
Bem vinda e Boa Sorte Melissa.
O mister Sérgio Carvalho, após nós
o termos convidado a responder a algumas questões, teve a cortesia de nos dizer
sobre ti:
“A Melissa é uma atleta (e não
jogadora como ela sabe tão bem diferenciar), uma das players que eu mais aprecio
e que contribuiu imenso para que todos os agentes amem a modalidade onde
trabalhamos. Tem uma auto disciplina muito forte, preocupa-se em ter o seu
corpo sempre ao melhor nível para que o seu desempenho seja, sempre, elevado e,
para além disso, tem uma enorme vontade de vencer. Trabalha fora e dentro da
quadra como ninguém. Um exemplo para as mais novas e para quem acha, como eu,
que chegando ao topo, o mais difícil e mantermo-nos lá.
O Santa Luzia é um grupo onde o
trabalho impera e onde a ambição está presente desde o primeiro dia do actual
projecto. A Melissa é isto em pessoa: trabalho, ambição, determinação. Por
conseguinte, o casamento de personalidades foi imediato.”
Tu és uma das atletas Portuguesas
que mais força fizeram para que o campeonato nacional de futsal feminino fosse
uma realidade. Fazes parte de uma geração de jogadoras de elevado nível e que
tão bons resultados têm obtido a nível internacional, especialmente se levarmos
em linha de conta a fraca competitividade que tinham as nossas competições
distritais que ocorriam pelo país.
Bom, o Santa Luzia representa uma
região do país onde o futsal feminino ainda tem muito por fazer e onde muito
está por discutir. É certo que estamos a dar o máximo que conseguimos para
mostrar a todos que é possível fazer sempre mais e melhor e que o facto de não
sermos do Porto ou Lisboa, não é factor impeditivo de se criarem e sustentarem
bons projectos. Tu, aliás, jogavas na associação de futebol de Braga e a prova
disso é que haviam duas grandes equipas que muito elevaram o futsal feminino
interno e além fronteiras.
Infelizmente a tua equipa, Rede Jovem Mogege, viu o
seu fim chegar e veio deixar uma vaga difícil de preencher e de igualar na
modalidade. O que é certo é que do grupo que fazias parte, havia muitíssima
qualidade e um grupo de atletas com muito valor, não só como desportistas mas
também como pessoas. Prova disso, nós recebemos algumas pessoas desse bom grupo
e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que a integração das que
chegam, com as atletas que já constituíam o grupo de trabalho, seja perfeita. Bem
sabemos de que no que depender de ti, a integração está feita!
Feita esta nossa, importante,
introdução, passemos então à entrevista onde viajaremos sobre o teu passado,
mas fundamental e essencialmente, sobre o teu presente e futuro.
Começamos por
te perguntar como é que tu viste a mudança na modalidade e como perspectivas o
futuro?
Primeiramente, antes de responder a qualquer questão,
gostaria de agradecer ao treinador Sérgio Carvalho por toda a amabilidade,
cordialidade e consideração demonstrada após a não participação da ARJ Mogege
no Campeonato Nacional. Queria, de igual modo, agradecer a toda a direção do
Santa Luzia Futebol Clube pelos esforços reunidos para proporcionarem as
melhores condições às atletas.
Relativamente à mudança na modalidade, na minha perspetiva,
a forma séria e profissional demonstrada por vários clubes, a qualidade exibida
pelas atletas e os resultados obtidos pela nossa seleção ao nível internacional
“exigiam” novo quadro competitivo. O Campeonato Nacional e a Taça de Portugal
acabaram por ser duas competições que vieram trazer mais competitividade e brio
ao futsal feminino. Estes factos são notórios, mas não suficientes para
afirmarmos que o futuro da modalidade será brilhante. Espero que a modalidade
continue a sua evolução, sem nunca esquecermos que só haverá condições para
haver evolução se a mesma for sustentada.
Na próxima
época o campeonato nacional ainda vai ser disputado em duas fases: uma com 8
equipas a norte e 8 equipas a sul.
As 4 primeiras
de cada série, disputarão os play-off para se apurar o campeão nacional e aqui,
nesta fase, a competitividade aumenta muito e qualquer escorregadela pode ser
fatal.
No teu entendimento, achas que está bem assim o formato ou seria, ainda, mais
interessante que o campeonato nacional fosse com uma única série de 16 equipas?
Para poder responder de forma coerente a esta
questão, seria necessário fazer primeiro, uma análise cuidada para se encontrar
uma solução sustentável a nível económico, social e político. Eu, enquanto
atleta, não sou a pessoa indicada para responder a essa questão, mas penso que
série única de 16 equipas exigirá mais em termos financeiros e humanos. Estaremos
preparados para dar esse passo?! Na minha opinião temos que dar passos pequenos
e sólidos. É importante trabalharmos com o máximo de profissionalismo,
paciência e esperança, demonstrando, com persistência aos principais agentes
que vale a pena apostar no futsal feminino. Creio que, apenas após esta
conquista conseguiremos, um dia, ter um campeonato com uma única série de 16
equipas.
Pode não parecer importante o teor da pergunta
anterior, mas nós trabalhamos para que o futuro do campeonato passe pelo mesmo
formato que é aplicado ao masculino da 1ª divisão nacional. Mas não chega só
pedir, é necessário agir.
E é aqui que
entronca um sentimento que tu podes aproveitar para falar um pouco sobre ele:
quais, e se achas que existem, as principais melhorias que as jogadoras de
futsal têm de fazer na sua mentalidade para que todos passem a olhar da mesma
forma para a competição feminina?
- A mentalidade, em alguns aspetos, trabalha-se, mas
noutros faz parte da forma de ser e estar da própria pessoa. Acho que estamos
numa fase de crescimento do futsal feminino em que devemos todas ajudar a esse
crescimento... ajudar não só dando a nossa qualidade mas também não exigindo
demais dos Clubes. Não podemos exigir coisas absurdas se depois não tivermos o
compromisso de sermos atletas em vez de apenas jogadoras. Neste aspeto eu estou
completamente à vontade para falar pois como já foi referido acima pelo mister
Sérgio, eu trabalho para ser atleta e não apenas jogadora. Há um compromisso
sério que temos de fazer com a modalidade e com o Clube, respeitando-os para
sermos respeitadas. Muito sinceramente gostava de ver as jogadoras de futsal a
trabalhar mais neste sentido.
Achas que as
jogadoras já perceberam o caminho que está a ser trilhado? Achas que já perceberam
que nada devemos ao masculino?
Sinceramente acho que sim... este ano ficou isso
demonstrado. Temos de estar melhor preparadas porque o desafio é cada vez
maior. Há naturais diferenças para o masculino, mas também acho que temos de
conquistar o nosso espaço e não viver de comparações que em nada favorecem o
feminino.
Temos
jogadoras, nomeadamente as que têm estado ao serviço das nossas selecções
nacionais, pretendidas por vários clubes europeus de topo. Algumas, inclusive,
já deixaram o nosso campeonato, rumo a outras paragens. Tu tens sido
constantemente convidada para sair do país e trabalhar em clubes de topo. Tens
sido uma resistente. O que tem feito ficar entre nós?
Sim, tenho resistido a convites de Espanha, Russia e
Itália. São campeonatos distintos uns dos outros e em qualquer um deles poderia
ter uma experiência diferente. Agradeço muito as possibilidades que tenho tido
dado que se não fossem vários os fatores que me têm feito ficar por cá, já
poderia ter visto num convite uma oportunidade. A verdade é que não vivo para o
futsal embora trabalhe e dedique diariamente horas do meu dia ao meu corpo e
dessa forma indiretamente ao futsal. Sou consciente das coisas e sei que tenho
um percurso profissional para construir que passa por outros objetivos concretos
que tenho para a minha vida. Como penso assim, acho que enquanto puder devo
também ajudar na evolução do futsal em Portugal, até porque acredito muito no
potencial das atletas portuguesas. A acrescentar a isto gosto muito de estar
entre os meus, porque são o meu equilíbrio e gosto de me sentir bem para viver
feliz. Pese embora tudo isto, não ponho de parte uma experiência futura em
Itália, se assim entender que, em determinado momento, isso me fará
feliz.
Quais os
conselhos que podes deixar para as atletas mais novas, que possam estar a ler o
teu testemunho, e que queiram chegar ao mais alto nível?
Precisamente
aquilo que eu defendo, que se preocupem em ser atletas em vez de apenas
jogadoras. Que trabalhem bem, acreditem e confiem conscientemente nas
suas capacidades porque só assim se
consegue ir longe. Seguidamente que conquistem a capacidade e trabalho e
a perseverança, porque o sucesso aparece nesta sequência. Depois que entendam que para se ser atleta
são precisos sacrifícios e que pensem se estão preparadas para os fazerem.
Posso dizer que o gozo que dá atingir performances elevadas, assim como a
satisfação de atingir os objetivos e de poder proporcionar o melhor de nós a
quem assiste e a quem nos apoia, vale qualquer sacrifício. Finalmente um
conselho... não se prendam demasiado aos títulos porque a felicidade da conquista
está nas coisas mais simples da vida.
Sobre o próximo campeonato nacional, a competitividade
está assegurada, pelas notícias que temos lido sobre as mexidas no mercado.
Como antevês a
próxima edição da prova?
A julgar pela aprendizagem efetuada nesta 1ª edição,
acredito que a equipa com o plantel mais equilibrado, no que diz respeito às competências
do jogo e futsal, estará mais próxima de vencer a prova. Prevejo uma edição
tanto ou mais competitiva, pois os clubes retiraram as mesmas conclusões,
tentado reforçar-se.
O ano que
agora terminou, o campeão nacional surgiu fruto de um notável espírito de
trabalho e de determinação. O Golpilheira foi um justo vencedor, numa prova de
regularidade assinalável. Isto faz-nos reflectir sobre a importância da
constituição do plantel.
A nossa
humildade é tremenda. Não queremos dizer que lá chegaremos, queremos é
trabalhar para que um dia isso possa ser possível e Viana fique definitivamente
na rota do futsal nacional. É isto que nos move a todos por cá.
Como vês tu o
futuro próximo do Santa Luzia, tendo em conta o grupo de trabalho que tu agora
integras, isto é, perspectivas uma boa equipa?
O Santa
Luzia, na época transata, com o mister Sérgio, conseguiu já mostrar um futsal
de muito bom nível, fruto do seu trabalho mas também da qualidade das atletas
que foi sendo potenciada. E quem trabalha para potenciar ao máximo as atletas
arrisca-se a ser feliz. Neste sentido o que posso dizer é que, juntando as
atletas que já estavam no Santa Luzia com os novos reforços, só posso
perspetivar coisas boas. No que depender de mim trabalharei sempre no limite
para me poder apresentar no máximo desempenho e honrar a camisola. Quero muito
ajudar porque se todas ajudarmos, com humildade e com trabalho, podemos chegar
muito longe.
Quais pensas
que vão ser os maiores desafios da equipa assim que arranquem os trabalhos?
Acho que no
início tudo vai constituir um desafio. Olhando para o plantel não poderia estar
mais satisfeita, mas acho que o maior desafio inicial é mesmo o de criar
entrosamento, porque há muitas atletas novas e, ao mesmo tempo, fazer com que
todas se ajustem da melhor forma ao modelo de jogo da equipa e se adaptem
também à própria filosofia do Clube.
No que a mim
diz respeito, adoro desafios porque acho que são eles que mantêm o nosso estado
de alerta máximo e a motivação em alta. O meu desafio, além dos já referidos, é
estar ao nível das exigências para poder ajudar o máximo que possa.
És muito
segura no teu jogo. Os teus dribles são estonteantes, os teus apoios ao 2º
poste são difíceis de igualar. Mas tu, perfeccionista e trabalhadora como és, deves
achar que ainda tens muito para evoluir. Já deves ter estabelecido metas nesta
tua nova experiência.
Podes
partilhá-las com os nossos leitores?
A
evolução tem de ser uma constante, é isso que defendo e como tal procuro
evoluir sempre. Desta vez não vai fugir à regra. Acho que há sempre espaço para
melhorar. Pretendo melhorar na tomada de decisão, aspeto tão falado atualmente
no futsal e que, a meu ver diferencia os atletas e também pretendo melhorar nos
aspetos táticos e até técnicos porque não chega nascermos com habilidades
naturais, é necessário que as mesmas sejam trabalhadas para que se possa tirar
o melhora partido delas.
O Santa Luzia
tem como imagem de marca, um forte trabalho táctico efectuado ao longo deste
último ano. Em que medida achas tu que o Santa Luzia pode ajudar a melhorar o
teu jogo?
Durante a minha formação fui alvo de muitas críticas,
algumas duras e até irresponsáveis face à minha tenra idade, devido ao meu
estilo de jogo, enquanto jogadora individualista. O meu potencial era evidente,
mas aos olhos de muita gente nunca seria capaz de colocar as minhas capacidades
em prol do funcionamento coletivo, nem singraria enquanto atleta. Felizmente
muita coisa mudou e as minhas experiências contrariaram os mais críticos. Tive
sempre gente ao meu lado que me ajudou a melhorar e a atingir o patamar que
hoje me encontro. Quando se deu a possibilidade
de representar o Santa Luzia um dos aspetos que pesou na minha decisão foi
precisamente porque sei que vou para um sítio onde poderei seguir o mesmo
padrão de melhoria.
E para
terminar, Melissa, antes mesmo de te agradecer o tempo que dispensaste a esta
nossa entrevista, gostaríamos de saber como perspectivas tu o desempenho do
Santa na próxima edição do campeonato?
Antes demais
eu é que agradeço a possibilidade de partilha que me é dada e as vossas
palavras que muito me honram. Respondendo à questão, acho legítimo que possamos
pensar que podemos ter um bom desempenho e não seria verdadeira se não dissesse
que sinto que podemos passar à 2ª fase da prova e depois tudo é possível, até
porque temos um plantel bem estruturado, onde o equilíbrio é notório. Nem penso
noutra coisa que não seja ajudar o Santa Luzia, como dizem acima, a entrar na
rota do futsal nacional. Aliás para mim já estava a entrar nessa rota antes,
precisamente pelo excelente trabalho que vinha a ser desenvolvido e por isso quis
fazer parte dele. Aliás já o disse antes que estou feliz e certa da minha
escolha. Agora entrei de férias e vou descansar de forma a que possa voltar
bem, porque a motivação para trabalhar com as novas colegas está em alta. O
resto acontecerá naturalmente.
PELO FUTSAL FEMININO!
SANTA LUZIA FC